terça-feira, 4 de novembro de 2008

Apagão

Acabou a luz.
Estou no escuro...
Acendo um fósforo,
acendo a vela.
A luz engole as distâncias, luta pelo espaço...
A luz luta pelo ser.
A luz existe, tem que existir.
Ser onda e ser matéria.
A luz luta pelo ser.
Ser por mais tempo em mais espaço;
Ser por mais espaço em mais tempo.
O escuro luta pelo ser...
Luta para ser o que não é,
O escuro não é.
Ser escuro é não ser luz.
Ser escuro é ser o que não é
O que não é, não pode ser o que não é:
Porque não é.
Maldito de quem deu nome ao escuro.
Não que o escuro não seja, realmente, escuro.
Mas, em suma, é muita pretensão dar-lhe um nome.
Visto que ele não é.
É só escuro.
A luz contrapõe o escuro.
Tudo é.
Não obstante, nada é.
E se algo é, deixa de ser.
Se algo é, só o é diante de algo...
O objeto só é, para o observador.
O objeto não pode ser para o observador.
O observador é abjeto, incompetente...
O abjeto não vê objeto.
As únicas certezas de um homem constroem-se fundamentadas pelas idéias mais simples.
Todavia, as abstrações mais simples são, no entanto, as mais prolixas.
São paradoxais.
Inconcebíveis.
Acabou a luz.
Estou no escuro.

Nenhum comentário: